segunda-feira, 8 de dezembro de 2008


Sentou-se diante do papel vazio e escreveu: comer — olhar as frutas da feira —
ver cara de gente — ter amor — ter ódio — ter o que não se sabe e sentir um sofrimento
intolerável — esperar o amado com impaciência — mar — entrar no mar — comprar um
maio novo — fazer café — olhar os objetos — ouvir música — mãos dadas — irritação
— ter razão — não ter razão e sucumbir ao outro que reivindica — ser perdoada da
vaidade de viver — ser mulher — dignificar-se — rir do absurdo de minha condição — não
ter escolha — ter escolha — adormecer — mas de amor de corpo não falarei.
.
Depois dessa lista ela continuava a não saber quem ela era, mas sabia o número
indefinido de coisas que podia fazer.
.
Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Clarice Lispector