
CONTO EM LETRAS GARRAFAIS
.
Todos os dias esvaziava uma garrafa, colocava dentro sua mensagem, e entregava ao mar.
Nunca recebeu resposta.
Mas tornou-se alcoólatra.
...
DE FLORAÇÃO
.
A mulher acordou com os seios inchados, doloridos. Tocou de leve, comentou com o marido. Na manhã seguinte os mamilos estavam duros, brilhantes. E notou que no seguir do dia modificava-se a cor, escura a princípio, quase roxa, clareando aos poucos em tons esverdeados à medida que os mamilos mais e mais erguiam suas pontas.
Compressas, pomadas, água morna. Delicado trato. Racha-se nas extremidades a pele agora fina, quase transparente. E leve cacho de carne protubera entre os lábios da fenda, projeta-se desenovelando lento e seguro a primeira pétala lilás.
Sépalas tensas, trêmulos babados. E o rijo clitóris do labelo. Nos seios da mulher duas orquídeas explodem em silêncio.
Reverente, o marido a transporta frente à janela, abre cortinas, despe blusa, que se derreta a luz no colo em primavera. Nem descuida da água, em jarra e copos, que ela bebe seguida.
Como aranhas, assim as orquídeas tecem seu perfume. Fio frágil flexível, e nunca igual. Quase indizível nos primeiros dias, doce em seguida, fazendo-se maduro, pegajoso, enquanto nas pétalas manchas escuras se alastram queimando a cor, vazando a consistência.
Bebe e bebe a mulher tentando prolongar a floração. Mas o rendado se encolhe, o lilás se retrai. Murchas passas pardas, caem enfim as orquídeas deixando nos mamilos uma gota de seiva.
Que o marido vem colher entre os dedos. Para depois, cuidadoso, segurando a tesoura nas duas mãos, podar em sangue a matriz.
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Todos os dias esvaziava uma garrafa, colocava dentro sua mensagem, e entregava ao mar.
Nunca recebeu resposta.
Mas tornou-se alcoólatra.
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DE FLORAÇÃO
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A mulher acordou com os seios inchados, doloridos. Tocou de leve, comentou com o marido. Na manhã seguinte os mamilos estavam duros, brilhantes. E notou que no seguir do dia modificava-se a cor, escura a princípio, quase roxa, clareando aos poucos em tons esverdeados à medida que os mamilos mais e mais erguiam suas pontas.
Compressas, pomadas, água morna. Delicado trato. Racha-se nas extremidades a pele agora fina, quase transparente. E leve cacho de carne protubera entre os lábios da fenda, projeta-se desenovelando lento e seguro a primeira pétala lilás.
Sépalas tensas, trêmulos babados. E o rijo clitóris do labelo. Nos seios da mulher duas orquídeas explodem em silêncio.
Reverente, o marido a transporta frente à janela, abre cortinas, despe blusa, que se derreta a luz no colo em primavera. Nem descuida da água, em jarra e copos, que ela bebe seguida.
Como aranhas, assim as orquídeas tecem seu perfume. Fio frágil flexível, e nunca igual. Quase indizível nos primeiros dias, doce em seguida, fazendo-se maduro, pegajoso, enquanto nas pétalas manchas escuras se alastram queimando a cor, vazando a consistência.
Bebe e bebe a mulher tentando prolongar a floração. Mas o rendado se encolhe, o lilás se retrai. Murchas passas pardas, caem enfim as orquídeas deixando nos mamilos uma gota de seiva.
Que o marido vem colher entre os dedos. Para depois, cuidadoso, segurando a tesoura nas duas mãos, podar em sangue a matriz.